sábado, 3 de janeiro de 2009

A onça

Se eu dissesse que é história de pescador, seria mentira. Porque de pescador ele não tem nada, mesmo morando na beira do mar. Só se for pescador de caixa d'água, já que ele passa o dia todo fiscalizando as caixas no morro. E essa história está deixando o povo meio abobalhado, nervoso. Quando falam sobre o assunto, é baixinho, quase cochichando, pra não assustar turista que vem pegar sol na praia. É que o Joãozinho deu pra espalhar pelo bairro que tem onça rondando o morro. Ele tem absoluta certeza, porque viu a pegada da bichana perto de uma caixa d'água. Tem gente se perguntando se ele sabe diferenciara pegada de onça da de uma de cachorro grande. Sua convicção aumentou mais ainda depois que a sua cachorrinha sumiu - foi a onça, com certeza.
O povo lá de baixo não pára de comentar e, no meio de uma conversa sobre eucaliptos, carvão e aneloi (demorei pra entender que era Nelore), a tal da onça surgiu. Alguns dizem que é pequena, outros, grande. Mas na verdade verdadeira, ninguém viu a fuça da bicha. Nem mesmo o povo que tem casa no morro, como eu. E para desacreditar toda essa conversa, a tal da cachorrinha sumida apareceu, toda suja, mas inteirinha, com todos os pêlos no corpo. Se fosse onça mesmo, garanto que estaria faltando um pedacinho, a não ser que a bicha quisesse companhia no Natal.
Essa história deve ser resultado do cérebro do Joãozinho, meio cozido de tanta cachaça. Se a onça quis companhia no natal, é bem possível que ela queira também no Ano Novo, para ver os fogos. Agora temos que ficar espertos, pra pegar o bicho no pulo.
(Ubatuba, 27 de dezembro de 2008)

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